sexta-feira, 16 de agosto de 2013

NA PORTAL DO COTEL - DIÁRIO DE PERNAMBUCO

A fila da vergonha

Muitas dores estão à mostra na fila que vara a madrugada fria. O cenário tem grades e é ocupado por pessoas desconhecidas, que aguardam a semana inteira para estar ali. Os abraços são um alento para a saudade e dão uma trégua na angústia alimentada pela incerteza do futuro, que agora depende de uma decisão da Justiça. A cada madrugada de domingo, a cena se repete. Difícil não pensar em um campo de refugiados. Gente de todas as idades - incluindo recém-nascidos e idosos - acomoda-se como pode entre lençóis e colchões velhos expostos e alugados na beira da estrada que cruza o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Os primeiros raios de sol lançam luz sobre o emaranhado de lençóis que cobrem os rostos recém-despertos. A maioria dos que aguardam o início das visitas prefere esconder-se, afinal, o sentimento geral é de humilhação. Eles sentem na pele o preconceito da sociedade, assumindo o peso do estigma de ter um parente na prisão.
Lá dentro estão cerca de 2,2 mil homens em uma unidade onde só cabem 311. São aproximadamente três mil familiares esperando do lado de fora. Muitos deles montam “acampamento” na frente da unidade ainda na sexta-feira para conquistar os primeiros lugares da fila e assim passar mais tempo com os filhos, irmãos, maridos ou pais.
Sofrem as consequências de uma pena que não deveriam pagar, mas aguentam firme. Sabem que são fundamentais na ressocialização dos réus.
O Diario enveredou pela neblina fria que cerca o Cotel nas madrugadas de maio e junho para contar as histórias de sofrimento das famílias no acesso aos parentes presos no Cotel. A série de reportagens Na porta do Cotel, que segue até a próxima sexta-feira, mostra a situação das visitas prisionais em outros estados do país e as soluções apontadas pelo governo estadual e por entidades de direitos humanos para pôr fim à situação.
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